quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um presente do passado [FINAL]

"Querido papai,


Obrigado pelo presente que o senhor me deu. O seu caderno foi o meu maior presente de toda a minha vida, daquela que passou e da que virá também. Lembro-me vagamente de como você era, pois você partiu muito cedo. Não lembro do seu olhar, nem das suas mãos que guiavam meus passos incertos de quando eu era pequeno. Porém, agora com este caderno, posso conhecer o senhor um pouco mais do que conhecia. As suas fotos comigo e mamãe me remetem à uma realidade que eu gostaria de viver: Uma realidade que você está comigo hoje.
As vezes sinto falta de você. Sei que tenho o vovô por perto, e tenho mamãe também. Mas eu gostaria que o senhor estivesse aqui comigo. Quando eu precisava ter aquelas conversas de apoio e ajuda, vovô me ajudou muito, mas não é a mesma coisa, pois ele não é o meu pai. Mamãe me escutou muito também, mas não é a mesma coisa. Você fez falta em alguns momentos muito decisivos. Mas eu acho que me virei bem, no fim das contas.
Tenho certeza que você gostaria de nos ver agora. Eu trabalho e estudo, faço Direito, como o senhor fez. Tenho muitos amigos. Eles gostam demais de mim, e eu também deles. Faço parte de uma "irmandade" até: grandes amigos, quase irmãos. Nosso lema? "Um por todos e todos por um!". Vovó disse que "Os Três Mosqueteiros" foi um livro que você gostou muito na sua mocidade. Até disse que na escola você tinha três amigos inseparáveis, e eram chamados de "Os Mosqueteiros". Quanto aos meus amigos, você gostaria de conhecê-los, de verdade. São ótimas pessoas que me ajudam a caminhar nesta vida. Somos "Os Novos Mosqueteiros".
Acho estranho o que sinto por você, papai. Como posso ter saudades de alguém que não me lembro bem? Mas enfim, acho que conheço você sem conhece-lo bem. Mesmo sendo um bebê quando você nos deixou, eu vejo as suas fotos, leio suas memórias e me sinto próximo à você. Chega a ser engraçado como eu o entendo, parece que você está do meu lado quando eu recordo suas memórias. Deve ser essa a magia de pai-e-filho. Mamãe chama isso de amor.

Eu te amo, papai. E obrigado."

Toda história tem o seu fim, leitor, e esta não seria diferente. O nosso protagonista apazigou o seu coração. Entendeu as coisas, a vida. Escreveu essa carta na contracapa do livro que o seu pai lhe dera por intermédio do seu avó. Era uma homenagem para o falecido pai.
Termina aqui uma história de três gerações de uma família: Uma história de amor que transcendeu o tempo e a própria morte.

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