domingo, 17 de agosto de 2008

Heróis e Fantasmas

Era manhã em uma Alameda da cidade. O dia estava frio, já era meio de Inverno. As nuvens nos céus se esconderam, e o sol brilhava naquela imensidão azul.
Foi naquela Alameda que vi um homem, muito bem trajado; usava um terno de grande fineza, com seus sapatos perfeitamente engraxados. Tinha um relógio de bolso prateado em sua mão esquerda. Seu rosto era de um homem de uns 40 anos, e seus olhos tinham um brilho especial, como o de uma estrela solitária que brilha nos céus noturnos.
Mais na frente, do lado oposto da Alameda, havia outro homem. Este também estava bem vestido e portava uma maleta, destas de executivo. Nela havia cartas. Porém, este homem tinha algo de estranho: Ele estava em chamas. O fogo corria por todo o corpo deste homem, mas ele não demonstrava qualquer sinal de sofrimento; seu rosto mostrava uma serenidade, como a de uma folha que cai no Outono. As chamas não lhe consumiam, tampouco suas roupas.
Os dois homens desta história começam a andar, um ao encontro do outro. Caminham em passos lentos, e se encontram no meio da Alameda. Um olha para o outro, e ambos estendem as mãos, em um gesto de cumprimento. Eles se saudam com um aperto de mão firme e amigável, enquanto os seus olhares se cruzam. Ficam nesta cena por alguns instantes, quando decidem continuam os seus caminhos. Eles se dão as costas, e cada um caminha para um lado. Distanciam-se um do outro, e partem então.
Porém, o homem em chamas não continua; ele pára no meio do seu trajeto, e por fim se transforma em cinzas. Ele se desfaz em suas chamas, mas sem desespero ou tristeza. Seus restos são carregados pelo vento, que se encarrega de levá-los para o repouso nesta Alameda.
E quanto ao outro homem, o homem com o relógio nas mãos? Ele continuou a andar, não olhou para trás em nenhum momento. Continuou a andar, sempre em frente...

Wish you were here

domingo, 10 de agosto de 2008

A música

Não, hoje não tem minhas alucinações. Hoje não tem situações utópicas e pensativas, tampouco terá personagens da minha própria imagem. Hoje não tem experiências sobre as minhas noites, nem espelhos metareflexivos, nada disso. Hoje tem um fato real, experimentado amargamente em uma bela noite de sexta-feira...
Eu estava sentado, em meu devido lugar, fazendo aquilo que deveria fazer naquela hora: estudando. A vida continuava, caro leitor, isso é lei para todo homem nesta Terra que nosso Senhor nos deu. E isso não era exceção para mim, claro.
Recebi um papel, imediatamente eu o li. E logo me veio uma sensação já bem familiar, que havia tempos que não sentia. Resolvi me isolar naquele recinto, fiquei distante de todos. Não havia razão de partilhar aquele sentimento que eu tinha naquele momento. E assim, me sentei ao fundo desta sala, sozinho e esperando que aquele momento terminasse.
Aquele papel tinha algo em especial: Uma letra de uma música. Não uma música qualquer, mas uma música em especial, que bateu lá no fundo da alma. Uma música que carregava consigo uma vasta lembrança...
Para mim, música é especial. Ela está sempre presente em minha vida, seja nos momentos bons ou ruins. A música me marca, marca meus momentos, minhas passagens de vida. Está intrinsecamente ligada a minha capacidade de relembrar, tanto que eu poderia criar uma Trilha Sonora de toda a minha vida com as melodias que compõem minha linha de recordações.
A música do papel faz parte destas músicas que marcaram minha vida. No momento em que recebi o papel nas minhas mãos, uma vaga lembrança veio em minha mente, e resolvi ir para o fundo da sala. E como era praxe naquele dia, uma música sempre era tocada, e todos os presentes recebiam uma folha com a letra e tradução da música.
A música em questão começou a tocar, abaixei a cabeça. Lembro de acompanhar a letra conforme a melodia tocava. Um instante minha vista ficou embaçada, meus olhos encheram de água. Uma tímida lágrima derramou pelo meu rosto, seguida de outras lágrimas. Era um falso sofrimento, um incômodo disfarçado de dor. A situação durou alguns minutos, acredito que uns seis minutos. No momento em que a melodia parou de tocar, minhas lágrimas pararam. Esfreguei as minhas mãos nos olhos, e me retirei do recinto.

A vida continua, meu caro leitor... Isso é lei para todo homem desta Terra que o nosso Senhor nos deu. E isso não era exceção pra mim, claro.