domingo, 14 de setembro de 2008

Grandes Esperanças

Além do horizonte, onde nós vivemos quando éramos crianças, era um mundo de magia e milagres. Nossos pensamentos não tinham fronteiras, apenas emanavam uma constante criatividade. Na rua principal, que dava de frente a uma igrejinha, o Sino da Divisão começou a tocar, marcando uma nova época.
As casas dali não tinham portas, eram sempre abertas para nós. Corríamos por todos os lados, de casa em casa, pedindo biscoitos e doces nas tardes infidáveis de primavera. Brincávamos todos os dias, correndo em torno dos moinhos de vento abandonados que já não funcionavam à tempos. O céu, marcado por miríades de sonhos, iluminavam as noites daquele mundo enclausurado de desejos.
Naquele lugar, éramos felizes.
Lá, além do horizonte, a grama era mais verde. As luzes eram mais brilhantes. O gosto de doce era mais doce. As noites eram mais especiais. Com nossos amigos por perto, a bruma da manhã brilhava mais, as águas corriam no rio sem fim.
E, neste paraíso, havia somente um desajustado preso à terra: Eu.