segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um tipo de Mágica

Já explodiu de alegria? Vivenciou um momento de felicidade extrema, onde parecia que sua alma não cabia no próprio corpo? Já sentiu na pele uma sensação boa de voar?
Isso é um tipo de Mágica. Muitos chamam isso de Loucura, Insanidade, mas é um tipo de Mágica. O adjetivo que melhor destaca este tipo de sensação é a maravilha. Quando este tipo de Mágica explode em você, é como um sonho, um prêmio, uma alma, um objetivo. Você se sente tão vivo que o mundo parece que está virando ao avesso. É como uma chama que queima dentro de você, enquanto você ouve melodias silenciosas. Este tipo de Mágica é um badalar dos sinos dentro da sua mente, desafiando as portas do tempo.
E você se iguala a uma estrela cadente no vasto espaço. Você se sente como um Tigre que desafia as Leis da Gravidade. Sente a emoção de um carro em alta velocidade. você não tem mais limites, superou-os lá atrás. Isso é um tipo de Mágica.
Este tipo de Mágica te faz sentir a música pulsar dentro de suas veias, enquanto você flutua nos seus sonhos. Você não consegue ficar parado, a espera parece uma eternidade, e o sol vai raiando em uma sanidade total. Você não pára, é agitado e inquieto, esta é a Mágica.
Você queima nos céus, Sr. Fahreinheit! Você pode viajar na velocidade da luz! Você é igual a uma bomba, pronta para explodir de alegria.

É um tipo de Mágica, algo sem explicação! É divertido, contagiante, é único! É se sentir livre, é sentir que posso ir além! Não é negar a realidade, nem fugir dela; é adaptá-la à sua agitação! É descobrir a alegria de viver na vida, é ser louco, é ser feliz!
Vivencie este espetáculo!

Muitos chamam isso de Loucura, Insanidade... Eu apenas chamo isso de... Mágica...
São sinos que dobram em sua mente, desafiando os Portões do Tempo...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Eclipse

Tudo que você toca,
Tudo que você vê,
Tudo que você prova,
Tudo que você sente,
Tudo que você ama,
Tudo que você odeia,
Tudo que você desconfia,
Tudo que você salva,
Tudo que você dá,
Tudo que você negocia,
Tudo que você compra, pega emprestado ou rouba,
Tudo que você cria,
Tudo que você destrói,
Tudo que você faz,
Tudo que você diz,
Tudo que você come,
Todos que você conheçe,
Tudo que você vê passar rápido,
Com todos que você briga,
E tudo que é agora,
E tudo que já passou,
E tudo que virá.

Tudo está alinhado debaixo do Sol,
Mas o Sol está em Eclipse com a Lua.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Continue a falar

"Há milhões de anos atrás a humanidade vivia como os animais.
Então algo aconteceu que libertou o poder de nossa imaginação:
Nós aprendemos a falar"

-Há um silêncio me envolvendo. Não consigo pensar direito. Fico sentado no canto, onde ninguém irá me incomodar.

-Penso que deveria falar.
-Por que não fala comigo?
-Eu não consigo falar.

-Você não fala comigo.
-As minhas palavras não saem direito.
-No que está pensando?
-Sinto-me afogar.
-O que está sentido?
-Sinto-me fraco.
-Por que não fala comigo?
-Mas não posso mostrar minha fraqueza.
-Você nunca fala comigo.
-As vezes me questiono...
-No que está pensando?
-Onde chegaremos a partir daqui?
-O que está sentindo?

...

-Por que não fala comigo?
-Sinto-me afogar.
-Você nunca fala comigo.
-Não consigo respirar.
-No que está pensando?
-Não chegarei a nenhum lugar.
-O que está sentido?
-Não chegarei a lugar nenhum...
-Por que não fala comigo?
-Você nunca fala comigo.
-O que está sentido?
-Onde chegaremos a partir daqui?

As coisas não devem ser assim.
Tudo que devemos fazer é falar, apenas continuar a falar...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Tempo

As horas passam marcando os momentos que se vão, que formam um dia monôtono. Nós desperdiçamos e perdemos as horas de uma maneira descontrolada. Perdemos momentos, perdemos oportunidades que se vão a cada passar dos segundos e não voltam mais. As vezes, você vai perambulando, esperando que algo venha lhe mostrar qual é o caminho, simplesmente porque parece que perdeu sua bússola por aí.
E você se cansa de deitar-se na luz do sol, de ficar em casa observando a chuva. Você percebe que é jovem e que sua vida é longa. E caso você perca o tiro da partida, descobrirá que dez anos ficaram para trás.
Você corre e corre atrás do sol, mas ele todo dia vai embora no horizonte. E quando você percebe, correu tanto que já é noite, e o sol sempre girando ao redor da Terra para se levantar atrás de você outra vez. O sol permanece sempre o mesmo, mas você está mais velho e com o fôlego mais curto.
E cada ano que se passa está mais curto, você parece que nunca tem tempo. Alguns de seus planos não deram em nada, outros em uma ou meia página de linhas rabiscadas.
E um desespero quieto toma conta de você. Seu tempo passa e você nem percebe. Perde parte da sua vida porque não soube aproveitá-la, perde momentos porque não soube buscá-lo.
E você se dá conta de que o tempo se foi e a canção acabou...

Pensei que eu tivesse mais alguma coisa para falar...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um presente do passado [CONTINUAÇÃO]

"Querido filho, caso você esteja lendo isso, é porque já não estamos mais juntos. Você deve estar lendo isso no seu aniversário de dezenove anos. Meus parabéns, filho! Você acaba de entrar em uma fase nova da sua vida. Novas responsabilidades, novos conceitos, novos horizontes...
Antes de tudo, peço desculpas. Perdão por não estar ai, do seu lado. Você sabe que eu não resisti à luta contra o câncer, acabei partindo cedo. Peço desculpas por não estar ai com você, te apoiando nas horas difíceis, nos momentos em que você mais precisou da minha presença. Esta tristeza eu carreguei até o meu último suspiro: Não poder estar com meu filho.
Sabe, quando eu e sua mãe nos casamos, desejávamos um filho. Queríamos muito ter uma criança em nossas vidas. E antes mesmo de você já existir já era amado por nós. Nós sonhávamos com um garoto, e veio você, este presente. Você era como nós imaginávamos! Quando lhe peguei nos braços, você era tão pequeno... Você me olhou nos olhos, e deu um sorriso pra mim. Chorei naquele momento quando nossos olhares se cruzaram.
Você chegou, e eu parti. Eu imaginava como seria nossos dias, como seria estes programas de "pai e filho". Mas acabou que você cresceu sem minha presença, sem meu apoio. Mas eu sei que sua mãe foi como um pai também; ela foi o seu maior apoio em toda a sua vida. E eu sei que neste momento, quando você lê isto, sei que já é um homem de cabeça boa e caráter feito.
Ah! Como eu queria estar ai do seu lado. Como eu queria que ano após ano eu pudesse lhe dar os parabéns pelos seus aniversários. Mas como não pude, deixo para você este livro branco, onde você pode escrever toda esta nova vida que se inicia agora. Que tudo de mais importante para você possa ser registrado neste livro. Para que você, em um futuro, possa ler as suas memórias, e ver que a sua vida valeu a pena, cada momento dela...

Para meu querido filho, deixo grandes votos, para que todos seus sonhos sejam realizados.
Com amor, Papai"



Este texto estava na contracapa do seu presente do menino, o livro que seu falecido pai havia dado pra ele, mas foi entregue na sua festa de aniversário pelo seu avô. O garoto terminou de ler, e o relógio marcava seis horas da manhã. Era tarde, sua festa ficou para as horas que se passaram. Ele resolveu ficar por alí mesmo, repousar no sofá do escritório. Se aconchegou alí mesmo, e reclinou a sua cabeça para descansar. Foi abraçado com seu presente, apertou-o bem forte no peito, e caiu no sono. E na sua alma, uma sensação de felicidade...


Primeira parte aqui.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Camponês de Florença

Irei contar a seguir um breve e notável fato da vida camponesa ocorrido em uma aldeia de Florença há mais de quatrocentos anos atrás. Peço a atenção do leitor para este importante acontecimento histórico, pois a lição de moral não terá de esperar o final do relato.

Estavam os habitantes daquela aldeia em suas casas ou a trabalhar nos campos de cultivo, cada qual com suas tarefas e afazeres, quando de súbito ouviram o soar do sino da Igreja. Naquela época (séc. XVI), os sinos tinham grande função social: Dobravam várias vezes ao dia, assinalava as horas, anunciava aos aldeões as comemorações cristãs, ou até mesmo convocava o povo para acudir às catástrofe. Porém, desta vez o sino tocava melancolicamente um tom fúnebre. Tal fato surpreendeu os moradores daquela aldeia, pois não tinham conhecimento de ninguém entre os seus que pudesse estar doente. Deixaram as mulheres suas casas, as crianças pararam de brincar, os homens largaram suas lavouras e todos se reuniram no átrio da Igreja, esperando a notícia de quem morrera. O sino tocou por mais alguns instantes, e finalmente calou-se. A porta da Igreja se abriu e de lá saiu um Camponês. Não sendo este o encarregado de tocar o sino, logo os seus vizinhos lhe indagaram onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, fui eu quem toquei o sino", respondeu o Camponês. "Mas então, não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos a perguntar, e o Camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça, pois a Justiça está morta".

O que aconteceu? Ocorreu que o senhor ganancioso daquele lugar andava há tempos modificando os limites de suas terras, invadindo e se apossando das terras do pobre Camponês. A cada avanço do senhor, mais o Camponês se via reduzido em seu pedaço de terra. O prejudicado começou a protestar e reclamar, depois pediu compaixão ao senhor, e como não obtivera nenhum resultado, resolveu queixar-se às autoridades e se acolher nos braços da Justiça. Porém, tudo sem resultado, e as tomadas continuavam. O Camponês, desesperado, resolveu declarar Urbi et Orbi (Para a Cidade e para o Mundo) a Morte da Justiça. Talvez ele pensasse que sua atitude lograria comoção, e todos os Sinos do Universo, sem diferença de raça, credo ou costumes, todos eles, sem exceção, tocariam a Morte da Justiça, e não se calariam até que a mesma ressuscita-se para este mundo. Um clamor de tal forma, que ecoasse pelo mundo, sem qualquer barreira ou fronteira, com tal força para acordar o mundo adormecido. Não sei o que ocorreu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o Camponês a recuperar suas terras, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, voltaram resignados, de cabeça baixa e a alma abalada, às suas tristes vidas. É certo que a História não nos conta tudo...

Suponho que esta foi a única vez no mundo que um sino, uma campânula de bronze inerte, chorou a Morte da Justiça. Nunca mais se tornou a ouvir aquele dobre fúnebre em Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Neste instante, longe ou na porta ao lado de nossas casas, alguém está matando-a. E toda vez que a Justiça morre, é como se ela nunca tivesse existido para aqueles que nela confiavam, para aqueles que esperavam o que da Justiça nos temos o direito de esperar: Justiça, apenas Justiça. Não aquela Justiça vestida em túnicas de teatro, que nos confunde com retóricas judicialistas, não aquela Justiça vendada que permitiu que se viciassem seus pesos, não a Justiça com uma espada que corta mais para um lado que para outro, mas uma Justiça pedestre, uma Justiça companheira e cotidiana dos homens, uma Justiça para quem o justo seria o sinônimo de ética. Uma Justiça que chegasse a ser tão indispensável para a felicidade do homem quanto o alimento é indispensável ao corpo. Uma Justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, mas também e sobretudo, uma Justiça que seria a emanação espontânea da própria sociedade. Enfim, uma Justiça que apenas manifestasse o respeito pelo direito a ser de cada ser humano.

Hoje, o gesto do Camponês de Florença seria visto como a obra de um louco. Outros e diferentes sinos defendem e afirmam a possibilidade da implantação no mundo da Justiça companheira, distributiva e comutativa. Se houvesse essa Justiça, nenhum ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns e mortíferas para tantos outros. Se houvesse essa Justiça, a vida para mais da metade da humanidade não seria uma terrível condenação da mesma. Se houvesse essa Justiça, cada ser humano poderia reconhecé-la como intrinsecamente sua, uma Justiça protetora da Liberdade e do Direito, e não de suas negações.

Não tenho mais nada a dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O Camponês de Florença acaba de subir mais uma vez à torre da Igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

Adaptado do Discurso "Este Mundo de Injustiça Globalizada"
Lido por José Saramago na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial, 18/03/2002

domingo, 14 de setembro de 2008

Grandes Esperanças

Além do horizonte, onde nós vivemos quando éramos crianças, era um mundo de magia e milagres. Nossos pensamentos não tinham fronteiras, apenas emanavam uma constante criatividade. Na rua principal, que dava de frente a uma igrejinha, o Sino da Divisão começou a tocar, marcando uma nova época.
As casas dali não tinham portas, eram sempre abertas para nós. Corríamos por todos os lados, de casa em casa, pedindo biscoitos e doces nas tardes infidáveis de primavera. Brincávamos todos os dias, correndo em torno dos moinhos de vento abandonados que já não funcionavam à tempos. O céu, marcado por miríades de sonhos, iluminavam as noites daquele mundo enclausurado de desejos.
Naquele lugar, éramos felizes.
Lá, além do horizonte, a grama era mais verde. As luzes eram mais brilhantes. O gosto de doce era mais doce. As noites eram mais especiais. Com nossos amigos por perto, a bruma da manhã brilhava mais, as águas corriam no rio sem fim.
E, neste paraíso, havia somente um desajustado preso à terra: Eu.

domingo, 17 de agosto de 2008

Heróis e Fantasmas

Era manhã em uma Alameda da cidade. O dia estava frio, já era meio de Inverno. As nuvens nos céus se esconderam, e o sol brilhava naquela imensidão azul.
Foi naquela Alameda que vi um homem, muito bem trajado; usava um terno de grande fineza, com seus sapatos perfeitamente engraxados. Tinha um relógio de bolso prateado em sua mão esquerda. Seu rosto era de um homem de uns 40 anos, e seus olhos tinham um brilho especial, como o de uma estrela solitária que brilha nos céus noturnos.
Mais na frente, do lado oposto da Alameda, havia outro homem. Este também estava bem vestido e portava uma maleta, destas de executivo. Nela havia cartas. Porém, este homem tinha algo de estranho: Ele estava em chamas. O fogo corria por todo o corpo deste homem, mas ele não demonstrava qualquer sinal de sofrimento; seu rosto mostrava uma serenidade, como a de uma folha que cai no Outono. As chamas não lhe consumiam, tampouco suas roupas.
Os dois homens desta história começam a andar, um ao encontro do outro. Caminham em passos lentos, e se encontram no meio da Alameda. Um olha para o outro, e ambos estendem as mãos, em um gesto de cumprimento. Eles se saudam com um aperto de mão firme e amigável, enquanto os seus olhares se cruzam. Ficam nesta cena por alguns instantes, quando decidem continuam os seus caminhos. Eles se dão as costas, e cada um caminha para um lado. Distanciam-se um do outro, e partem então.
Porém, o homem em chamas não continua; ele pára no meio do seu trajeto, e por fim se transforma em cinzas. Ele se desfaz em suas chamas, mas sem desespero ou tristeza. Seus restos são carregados pelo vento, que se encarrega de levá-los para o repouso nesta Alameda.
E quanto ao outro homem, o homem com o relógio nas mãos? Ele continuou a andar, não olhou para trás em nenhum momento. Continuou a andar, sempre em frente...

Wish you were here

domingo, 10 de agosto de 2008

A música

Não, hoje não tem minhas alucinações. Hoje não tem situações utópicas e pensativas, tampouco terá personagens da minha própria imagem. Hoje não tem experiências sobre as minhas noites, nem espelhos metareflexivos, nada disso. Hoje tem um fato real, experimentado amargamente em uma bela noite de sexta-feira...
Eu estava sentado, em meu devido lugar, fazendo aquilo que deveria fazer naquela hora: estudando. A vida continuava, caro leitor, isso é lei para todo homem nesta Terra que nosso Senhor nos deu. E isso não era exceção para mim, claro.
Recebi um papel, imediatamente eu o li. E logo me veio uma sensação já bem familiar, que havia tempos que não sentia. Resolvi me isolar naquele recinto, fiquei distante de todos. Não havia razão de partilhar aquele sentimento que eu tinha naquele momento. E assim, me sentei ao fundo desta sala, sozinho e esperando que aquele momento terminasse.
Aquele papel tinha algo em especial: Uma letra de uma música. Não uma música qualquer, mas uma música em especial, que bateu lá no fundo da alma. Uma música que carregava consigo uma vasta lembrança...
Para mim, música é especial. Ela está sempre presente em minha vida, seja nos momentos bons ou ruins. A música me marca, marca meus momentos, minhas passagens de vida. Está intrinsecamente ligada a minha capacidade de relembrar, tanto que eu poderia criar uma Trilha Sonora de toda a minha vida com as melodias que compõem minha linha de recordações.
A música do papel faz parte destas músicas que marcaram minha vida. No momento em que recebi o papel nas minhas mãos, uma vaga lembrança veio em minha mente, e resolvi ir para o fundo da sala. E como era praxe naquele dia, uma música sempre era tocada, e todos os presentes recebiam uma folha com a letra e tradução da música.
A música em questão começou a tocar, abaixei a cabeça. Lembro de acompanhar a letra conforme a melodia tocava. Um instante minha vista ficou embaçada, meus olhos encheram de água. Uma tímida lágrima derramou pelo meu rosto, seguida de outras lágrimas. Era um falso sofrimento, um incômodo disfarçado de dor. A situação durou alguns minutos, acredito que uns seis minutos. No momento em que a melodia parou de tocar, minhas lágrimas pararam. Esfreguei as minhas mãos nos olhos, e me retirei do recinto.

A vida continua, meu caro leitor... Isso é lei para todo homem desta Terra que o nosso Senhor nos deu. E isso não era exceção pra mim, claro.

domingo, 27 de julho de 2008

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

A mim é permitido falar a verdade. Contudo prefiro manté-la oculta sobre a face de uma doce mentira.
A mim é permitido falar a mentira. Porém eu prefiro deixá-la de lado e expor a amarga verdade.

A mim é permitido voar. Entretanto, prefiro caminhar por aí, brincando de "Andarilho" e guiar o Vento.
A mim é permitido caminhar. Mas tem dias que prefiro abrir minhas asas da cor Crisálida, e voar para longe daqui.

A mim é permitido conversar. E se eu preferisse me calar e te mostrar meu silêncio?
A mim é permitido o silêncio. E se eu preferisse abrir minha boca e lhe dizer meus pensamentos?

A mim é permitido o amar. Mas e se eu trocar meus sentimentos e te dar minha indiferença?
A mim é permitido o odiar. Todavia, posso lhe estender uma mão amiga?


Me permite ser... Esta Metamorfose Ambulante?
"Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo e todos"

domingo, 22 de junho de 2008

Um choro

No meu quarto havia um espelho. Um antigo e bonito espelho, quase do meu tamanho, feito no início do século passado. Ganhei-o do meu avô, antes do mesmo falecer.
Uma noite em particular, eu estava sem sono. A janela estava aberta, e o frio invadia meu quarto. Aquele vento gélido se espalhava por todo o local, revirando até mesmo alguns papéis da minha escrivaninha. Não suportei, apesar da preguiça, deixar a janela aberta. Também fechei as cortinas, deixando tudo escuro, apenas com alguns feixes de luz da Lua para não deixar o local em uma escuridão total. Aproveitei que levantei da cama e catei os papéis avulsos que caíram da cômoda. Recolhi tudo, retornei-os de volta ao local e fui me deitar de novo, com a incrédula esperança de poder dormir...
As horas passavam, e o tic-tac do relógio da minha cabeceira deixava isso bem claro. Eu olhava para o teto, para as paredes, ligava alguma música, mas não conseguia ter sono. E então, aconteceu estranho algo. A música que estava tocando parou, e o relógio parou de contar o tempo. Ouvi um gemido, vindo do espelho. Pensei ser algum gato vagabundo escondido atrás do espelho, que invadiu meu quarto no momento em que a janela estava aberta. Levantei-me da cama com certo pesar no corpo, e fui ligar a luz, que para a minha surpresa, não acendia. Abri as cortinas, para a luz da Lua iluminar meu quarto. Ouvi de novo o gemido vindo do espelho, que mais parecia um choro.
Fui até o espelho, olhei nos arredores dele, mas nada encontrei, Naquele quarto, só havia eu e eu mesmo. Olho no espelho, e vejo o meu reflexo embaçado, e ouço de novo um choro. Desta vez, o choro vem de trás, da minha cama. Assusto desta vez, o choro era nítido, parecia uma criança pequena. Olho espantado para trás e vejo realmente um garoto, de uns 5 ou 6 anos talvez, recostada na cabeceira da cama, recolhida na sua existência e no seu choro. Um choro triste, baixo e melódico. Chego perto, aproximando devagar, muito assustado com aquilo que estou vendo. Vejo a criança chorar, e sento-me na minha cama, ao lado dela. Olho para ela e pergunto:

- Por que está chorando, criança?

- Porque tenho medo... - Respondeu a criança.

- E tem medo de quê? - Perguntei, curioso.

- Tenho medo do azul, assim como você tem medo do escuro... - Respondeu ele, com a voz tímida e amedrontada.

Naquele momento, entendi. Cheguei mais perto dele, e com ternura, o abracei forte. Ele chorou mais ainda, enquanto sentia o conforto do abraço. Ficamos assim por algum tempo, e quando o relógio voltou a correr, lembro-me de não mais sentir a presença da criança. Do mesmo jeito inexplicável que ela veio, ela foi embora. Neste momento, quando tudo parecia calmo, consegui cair em sono.

domingo, 15 de junho de 2008

Um presente do passado

O som do relógio na sala avisava que o novo dia estava começando. Um garoto entrava agora no mundo dos adultos, aquelas batidas do Cuco marcavam que começara ali o primeiro dia de sua nova vida como rapaz crescido. Oh, dezenove anos! Quantas coisas passavam pela cabeça deste rapaz? Ainda não havia caído a ficha de seus dezenove outonos vividos. Só agora, naquele escritório do seu finado pai e distante da festa proporcionada por seus familiares, é que ele começou a pensar nesta nova fase. Todo o recinto estava em escuridão, apenas a Luminária da mesa iluminava fracamente o escritório, e embalado por uma música suave no fundo da sala, o rapaz pensa sobre tudo que já viveu, e tudo que irá viver a partir daquele momento.
Subitamente, a porta do escritório se abre. Um senhor, de muita idade, entra. Era o avô do nosso protagonista. Ele, por um instante, observa o neto e relembra do seu falecido filho. O olhar do neto era o mesmo do seu filho. Isso remete o senhor às velhas lembranças: Ele recorda da festa de dezenove anos do seu filho. E algumas lágrimas teimam a descer no rosto dele...
Suas memórias são cortadas pela voz do neto. Ele volta para esta realidade, esta realidade que o seu filho não está aqui. Ele olha para seu neto, e pergunta o que ele estava fazendo ali, sozinho e no escuro. O rapaz desconversa, desvia o olhar e resmunga qualquer coisa do tipo "só estou com um pouco de sono". O avô conhecia aquele jeito, e tomou uma cadeira e se sentou em frente ao neto. Com um semblante tão sereno, o avô começou a falar com o seu querido neto:

-Hoje, olhando para você, lembrei-me do meu filho, que Deus o tenha. Ele ficou nesta mesma sala, pensando e vagando, enquanto o relógio batia os 12 sinos no seu aniversário. Nesta ocasião, quando seu pai fez dezenove anos, dei para ele um livro especial. Era um livro de capa dura, da cor azul. Tinha o título de "Meu Espelho". Suas páginas estavam em branco, era uma espécie de diário. Ele comentou dias atrás do seu aniversário que iria montar um livro dos melhores momentos da sua vida. Infelizmente, seu pai deixou o livro pela metade, ele morreu muito jovem, no auge dos seus vinte e quatro anos, acometido por uma doença grave. Deixou você, ainda um bebê, e sua mãe sozinhos. Antes de sua partida, no leito de morte, ele me devolveu o livro que lhe dei, disse que gostaria que ficasse comigo. Como eu queria ter dito mais coisas para seu pai naquele momento! Quantas oportunidades eu tive de falar com ele que o amava tanto, mas não demonstrei? E hoje, quase 20 anos depois da sua morte, eu lhe passo o livro que seu pai me deixou, como se eu estivesse me redimindo de tudo que eu poderia ter lhe feito e dito, mas não o fiz. Também lhe dou um outro livro, igual ao do seu pai, porém totalmente em branco, para que você escreva suas memórias. É o seu presente de aniversário...

Naquele momento, lágrimas descem no rosto de ambos. O neto recebe das mãos do seu avô os livros, e os segura perto do peito como um tesouro. O vovô se retira do aposento, deixando o garoto folhear o livro do pai e ler todas as lembranças do pai. Ele chega na última página do livro, e vê escrito duas frases de declaração. Ambas escritas à base de caneta de tinta, e nenhuma foi escrita recentemente. Nesta página havia "Eu te amo, meu filho", escrito pelo avô do garoto. E abaixo, estava um "Eu também te amo, meu pai", escrito pelas mãos do pai do rapaz. Uma declaração de amor entre pai e filho, sem dúvida alguma.
O que o rapaz não sabe é que há uma declaração na última página do seu livro. Uma declaração do seu pai, dias antes dele morrer. Mas deixemos isso para uma outra história...



Não deixe para Amanhã o que você pode fazer Hoje,
Pois o Amanhã pode ser Nunca Mais...

domingo, 8 de junho de 2008

O Delicado Som do Reflexo

Estou correndo no mesmo velho chão. Esta estrada já é conhecida, me guio através de tudo que já vivi. Estou em frente à porta, já estive aqui antes. Mas hoje sou diferente, a gente cresce, envelhece, ou coloca o pé nesta estrada. O Sol se põe, suspirando e desaparecendo lentamente. Tudo que carrego é uma chave, o meu tesouro. Deixando tudo para trás, vendo linhas brancas, o espelho vai ficando mais claro.
É nesta estrada que eu corro. Não sei para onde vou, mas sei que de onde vim, tenho medo de voltar. Esta estrada perdida não aceitas paradas. Com minhas prezes, aqui caminho, vendo o tempo e as milhas passarem. E peço ao Vento que guie meus passos, que seja o meu companheiro de viagem.
Para esta caminhada, queria um violão, as estrelas poderiam cantar alguma canção, enquanto componho algumas frases. Queria roubar um pedaço do tempo, e tornar este momento tão memorável quanto uma estrela cadente. Pois tudo isso é a razão das minhas emoções. É apenas a minha vida.
Finalmente encontrei meu caminho. Deixo tudo para lá, dou adeus. Começo a caminhar, estou livre nesta estrada, simplesmente deixo acontecer. É o meu Dia da Independência nesta Estrada Perdida.
E se existe algo em que eu me agarro, que me faz sobreviver todas as noites, é o que eu chamo de Sonhos. Vou viver a vida como ela deve ser vivida. Vou mostrar para o Vento como se deve voar. E quando eu ficar de frente para o mundo, digo: Tenha um ótimo dia!

domingo, 1 de junho de 2008

Poeira das Estrelas

Toda noite, era possível ver aquela estrela. Ela se destacava nos céus frios e solitários de outono. Brilhava de forma especial, chamava a atenção. Sua luz, em um misto de azul e branco, prendia a atenção daqueles que sonhavam. Para os sonhadores, aquela estrela era o estandarte dos seus desejos. Todos aqueles que sonhavam, sonhavam juntos com aquela estrela. Ela se transformou em um símbolo dos sonhos de nós, seres humanos.
E em uma bela noite, aquela estrela tomou consciência. Cansou de ser estrela, e queria sonhar também! Ganhou personalidade, adquiriu mente e pensamentos. Ganhou uma forma angelical, com um par de belas asas brancas. Todo seu corpo brilhava com a luz de uma estrela, brilhava de felicidade e emoção. A estrela materializou-se em um sonho!
E naquele instante, a estrela começou a dançar no vazio. Sozinha, sem nenhum tipo de companhia e som, ela dançava e cantava no espaço. Sua voz foi ouvida por todo o Universo, e sua luz iluminou as faces daqueles que sonhavam. Aquela estrela foi admirada por toda a noite, por olhos puros e sedentos de desejos.
Então, ela foi batizada naquele momento de "Poeira das Estrelas". Toda a noite, ela olhava para nós, enquanto cantava e dançava para os seus amigos sonhadores. Ela queria chegar até nós, mas tinha medo. Apenas nos observava, enquanto nós a observávamos também.
Ela apenas esperava nos céus. Esperava se tornar estrela cadente, e descer no espaço, para ir ao nosso encontro.
Ela apenas esperava nos céus, esperava por nós, esperava por sonhos...
Era somente uma estrela no vasto céu de outono...

domingo, 25 de maio de 2008

Estradas

Era tarde de outono. Um sol tímido repousava em um céu claro e azul. A brisa do vento batia no rosto e deixava uma sensação de tempo perfeito. Uma tarde simples naquela praça, porém aquele momento seria único e extremamente especial.
Avistei um homem, já maduro; aparentava ser uma pessoa humilde. Era alto e muito magro, vestia roupas sujas de poeira e suor. Carregava consigo uma mochila de aventureiro, daquelas velhas de pano que eram usadas para acampar. Estava cheia dos seus pertences, provavelmente tudo que ele tinha naquela vida se encontrava naquela mochila. Sua pele queimada pelo sol mostrava que ele estava em viagem à muito tempo. Sua face, tão pálida e singela, estava castigada pelo tempo. Seu olhar, cansado e pacífico, olhava para a praça com certa intimidade. E sua barba, que à tempos estava sem ser feita, destacava a sua condição de viajante.
Logo concluí que ele se tratava de um Andarilho, aquelas pessoas que caminham por aí, sem um destino certo, somente andando por este mundo do Nosso Senhor sem eira e nem beira. São apenas guiados pelo vento e suas próprias vontades.
Por que aquele homem era um Andarilho? Estava fugindo de alguém, ou de algo? Queria deixar o passado no longínquo? Não sei os motivos daquele viajante, mas sei que ele tem uma estrada para percorrer.
A vida de cada ser humano é como uma estrada de mão única: Cada um tem de trilhar o seu próprio caminho. Cada qual vai caminhar esta estrada chamada Vida com seus próprios pés e do seu próprio modo.
Às vezes, é comum os caminhos das pessoas se encontrarem. Por várias vezes, estradas se unem às nossas, e pessoas começam a caminhar o mesmo caminho que o nosso. Outras vezes, estas pessoas saem da nossa estrada, mas não sem deixar uma lembrança para nós. Em algum momento, antigos companheiros de viagem, que distanciaram à muito tempo das nossas vidas, voltam para trilhar mais um pouco conosco, trazendo consigo as experiências de outras estradas. Temos ainda aqueles que entram em nossas estradas de repente, e saem delas também com a mesma facilidade. Existem ainda aquelas pessoas que ficam tanto tempo em nossas estradas, que quando saem, sentimos falta do companheiro de viagem. Tem aqueles que entram em nossas estradas para a nossa vida toda, e até temos aqueles que nos abandonam no meio do caminho, não trilhando o seu próprio caminho, mas ficando para trás, e na memória daqueles que caminham para frente.
Acredito que como aquele Andarilho, assim eu sou; caminhando na minha própria estrada. E guardarei sempre uma lembrança de todos aqueles que compartilharem do meu caminho. Esta é a vida, leitor: Você mantém no lado esquerdo do peito tudo que você mais preza. Guarda lá no seu cofre da sua alma tudo aquilo que você não consegue deixar para trás, pendura a chave dele no seu pescoço, e vai para a viagem da sua vida!
Parece que o Andarilho está de partida. Ele arruma sua mochila em suas costas, ajeita suas roupas, toma um gole de água na fonte da praça, e começa a caminhar sem rumo, como sempre. Para onde será que ele vai desta vez? Seja para onde for, que você tenha uma boa viagem, Andarilho!

terça-feira, 20 de maio de 2008

As Asas de um Sonho

Todo ser humano tem sonhos, isto é fato consumado. Sonhos são aquela força que queima na alma, motivando-nos a viver a cada novo dia. O ser humano, de acordo com este texto, não tem necessidade de comer, nem respirar para viver. Ele só precisa sonhar. Sonho é o combustível da vida, é o seu mover para cada novo dia e cada novo acontecimento. E se você não sonha, você morre. Perde o sentido da vida, perde o seu chão. A vida não tem mais sentido para você. É somente uma casca vazia, sem motivação para estar aqui. Reafirmo: Se você não sonha, é porque está morto!
E todo ser humano tem um sonho em comum. Todos, sem exceção. Não importa a classe social, a raça, a cor, o credo, o local onde se encontra, todos nós temos este mesmo sonho. E você pode pensar que estou generalizando, mas não estou. Lá no fundo, todo ser humano já pensou nisso, em algum momento da sua vida. Não importa, ele já pensou, sonhou com este sonho em comum. Todos já sonharam este sonho, ou sonham, ou sonharão com ele.
Mas... Que sonho comunitário é este? Ora, leitor, simples! É o sonho de voar!
Mas não é o sonho de voar fisicamente, de ir para o céu físico, e ver as nuvens físicas. Não é deste vôo que eu me refiro. Queremos voar, sentimos prazer nisso. Voar em nosso interior, em nossos sonhos, desejos, vontades, alegrias. É comum de todos nós, voarmos na imensidão dos nossos sonhos.
Quem nunca fez planos? Ou já construiu o seu castelinho, tijolo por tijolo, pronto para preenchê-lo de aspirações? Quem nunca viveu nas suas fantasias? Quem nunca desejou de todas as suas forças algo que sonhava? É próprio do ser humano: Sonhar, Sonhar, Sonhar. É esta a nossa maior capacidade, a magia do ser humano.
Mas, do que adianta um sonho sem você buscá-lo? Do que adianta a estrela do seu desejo não ser alcançada? De nada vale um sonho sonhado sem ser buscado. E antes que bata o arrependimento daquilo que você fez, do que a dor da incerteza do que não fez.
Tem um sonho, leitor? Veja-o cair da constelação dos seus desejos, e vá atrás dele! É para isso que sonhos são feitos: Para realizar-los!


Afinal, do que vale a vida sem um sonho?

Aqueles que têm asas voarão em seus sonhos.